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É assim que hoje se sentem tantos, tantos pais...
(partilha dedicada às nossas Clara e Joana, as gémeas, que hoje se estreiam no 5º ano numa escola nova em que todos - colegas, professores e funcionários - vão, como sempre e em todo o lado, render-se à simpatia, desenrascanço, generosidade e alegria destas rapioqueiras meninas).
(Se este blog não é serviço público, não sei o que o será, por mim o João Miguel Tavares podia cobrar pelos posts que escreve que eu pagava)
Quando hoje fui levar a Carolina à escola, para começar o seu 5.º ano, tive a sensação de que não era só a vida dela que estava a mudar - a nossa, a minha, a da sua família, muda um pouco também. Passámos a ter os quatro filhos em três escolas diferentes, mas não é a questões logísticas que me refiro. O 5.º ano é a antecâmara da adolescência, as disciplinas multiplicam-se e os interesses (tal como as hormonas) disparam. Aquilo que mais orgulha a Carolina nesta nova etapa da sua vida é ter um cartão electrónico para entrar e sair da escola e um cacifo que é só dela - tudo coisas de gente grande.
Ao mesmo tempo, o Gui, o nosso querido e maluco Gui, entrou para o 1.º ano. É um passo enorme para ele, e pela primeira vez eu e a Teresa sentimos alguma angústia, porque não sabemos se ele estará bem preparado, se virá a ser um bom aluno, se não teremos de gastar horas e horas em casa a recuperar o que não aprendeu. Para começar, acho que ele teve imensa sorte, mas mesmo imensa, com a professora que lhe calhou, e o segredo do sucesso pode bem estar todo aí. Cativem o Gui e ele vai até à Lua. Se ele se desinteressa, a escola pode bem vir a ser uma chatice. Estou a fazer figas.
Mas enfim, podemos estar enganados, os pais às vezes são péssimos avaliadores dos seus filhos. Quando o nosso Tomás entrou para o 1.º ano lembro-me que nós achávamos que ele corria o risco de ser a vítima preferencial dos bullies da escola. E hoje, no 3.º ano, é um miúdo com um depósito de autoconfiança cem vezes maior. O menino que antigamente tinha medo de levar qualquer peça de roupa mais original, porque gozavam com ele, hoje saiu de casa com uns ténis cor-de-laranja berrante nos pés. Eu perguntei-lhe: "E se gozarem contigo?" Ele respondeu: "Não quero saber." E aquele "não quero saber" é tudo o que eu quero que se saiba. São obstáculos que se vencem, etapas que se ultrapassam - neste idade nada está escrito, é sempre possível mudar e melhorar, e isso é mesmo o melhor de tudo.
Corre o risco de se transformar no assunto mais referido deste blog, este par de primas. Mas é impossível não ficar a pensar nelas depois de estarmos juntos algum tempo, que foi o que aconteceu ontem à noite. Depois de múltiplos e insistentes pedidos dos meus filhos, vieram cá dormir pela 2ª vez desde que regressámos de férias. A mim parece-me um bocado incrível que a meninas de 9-quase-10 anos entusiasme a perspectiva de passar a tarde/noite com dois primos minorcas que não as deixam em paz nem um segundo mas a verdade é que elas parecem satisfeitas. Vieram ontem depois do 2º treino diário de canoagem e jantámos todos juntos. O António tinha encomendado massa à bolonhesa (imaginação na alimentação não é o forte deles) que o meu preparou amorosamente. Tivemos de arrastar a mesa da sala para cabermos todos e foi uma animação de jantar. Comeram, comeram, comeram e deixaram os adultos perplexos. Até o António e o Vasco que, não comendo mal, não comem muito, pareciam ter um rombo na barriga. Enquanto jogávamos ao ''vejo, vejo. o que vês?'' perdidos de riso porque o Vasquinho mandava para o ar com grande convicção ''guardanapo!'', ''porta!'', ''prato!'' quando a letra era o C, lá traçaram um belo jantar rematado com um brinde ao novo ano lectivo em que os copos chocalharam até eu tremer. No fim, um grande ''palmas à cozinheira'' dedicado ao pai.
A seguir ao jantar, um teatro, pois claro. Grande histeria enquanto eu e o pai éramos banidos para o nosso quarto para a trupe ensaiar. Pela casa toda. E nós, tão chateados, a ler deitados na cama. O teatrinho foi muito interessante, envolveu canto e dança, como sempre, mas estava a ficar tarde e o Vasquinho já está a ir para a escola (e as meninas tinham canoagem outra vez, esta manhã). Lavar dentes, vestir pijamas e mais um bocadinho para o sofá ver Panteras Cor de Rosa. Aí tivemos o momento dramático da noite quando o António começou a chorar porque as primas não voltavam cá a casa antes da escola começar. Pois não, mas podem vir logo no fim de semana seguinte, diziam elas, mas ele numa tristeza que até fazia pena. Depois lá se conformou e foi o primeiro a adormecer, seguido das meninas e sendo o Vasco o último como sempre. Já todos estavam ferrados e ainda se ouvia a voz dele a sussurrar ''gémea, gémea, eu adoro-te'' seguido de ''e adoro-te a ti também'', não fosse a mana ficar sentida. Elas adormeceram perdidas de riso com as intervenções dele.
Hoje de manhã foi tudo a marchar levar o Vasco à escola, que ia orgulhosíssimo, depois de um pequeno-almoço muito bem disposto, e a seguir cada um à sua vida. Clara e Joana para o rio Douro remar, António ao médico com a mãe e depois para a casa da avó.
E assim se vão queimando os últimos cartuchos deste verão que só o foi enquanto estivemos a sul do Porto. Aqui, valha-me Deus, não se sai da cepa torta do mau tempo, irrra!
[uma pergunta] Há algum truque para evitar que as crianças cheguem da praia com duas tonelada de areia enfiadas no rabo? As idas à praia de Matosinhos ao fim da tarde custam-me meia hora de gatas a limpar a areia da banheira.