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Eu ter ficado a achar a Manuela Azevedo uma pessoa encantadora e a achar os Clã a melhor banda do mundo.
Ter ido comprar o CD do Disco Voador porque depois do que se passou seria incapaz de circular por aí com um CD sacado da net que não tinha pago.
O António ter ficado (ainda mais) a achar que qualquer pessoa do mundo está à distância de um cumprimento, de uma carta ou de um email e que todas as pessoas são generosas e acessíveis e disponíveis para conversar o que, cá para mim, é uma boa coisa para se acreditar porque, se não é assim, devia ser e não há ninguém, em nenhuma área do conhecimento nem na vida em geral, que mereça ser considerado de maneira diferente de qualquer outra pessoa.
Last but not least, o Vasco abandonou finalmente o sonho de sempre de um dia ser maquinista de comboio porque agora quer antes ter uma banda e tocar baixo. Amén, meu filho.
E desculpem qualquer coisinha que já devem estar a deitar esta história pelos olhos.
Há duas semanas voltámos ao Fã. Um bocado excessivos, poderão pensar, e somos. Mas tinhamos gostado tanto, sabiamos que provavelmente não iamos ter outra oportunidade porque a temporada estava a chegar ao fim, tinhamos feito tanta publicidade entre os amigos que lá fomos nós, desta vez na companhia de uma data de amigos.
Desta vez já sabiamos acompanhar as canções e foi tão giro como da primeira vez. No fim, nova romaria à saída dos artistas. O primeiro a sair foi o Miguel do MiniPortobelo, que olhou para aquela tropa toda ali à espera, olhou outra vez e disse:
- António! Estás cá outra vez, pá?
E deu-lhe uma grande bacalhauzada e um high five.
Miúdo radiante e um tanto aparvalhado.
Continuaram a sair membros do elenco e a dizer olá e a aviarem autógrafos àquela pequenada toda. Muito simpáticos. O Hélder Gonçalves ficou até a fazer um bocado de conversa e a contar coisas sobre a concepção da peça e as experiências giras que tinham tido com as visitas das escolas. Às tantas disse aos miúdos:
- Não é a mim que vocês querem, pois não? Vou ver porque é que a Manuela está a demorar tanto.
Finalmente apareceu a Manuela que, coitada, lá estava a arranjar-se e a tratar da vida dela e ainda disse:
- Oh, desculpem, se eu soubesse que estavam aqui tinha saído mais depressa..
E depois olhou para eles, olhou, olhou outra vez e ...
- António! És o António, não és? Não me digas que és tu o António que nos mandou um email!
E o dito António não sabia onde se havia de meter de tão atrapalhado.
- Nem imaginas como gostámos do teu email, mandei-o para toda a equipa e todos ficaram muito contentes.
E deu-lhe um grande abraço.
Porque é que eu estou aqui a contar esta história, poderão perguntar?
É que fiquei muito impressionada com a gentileza da Manuela Azevedo. Quero dizer, foram todos simpáticos e pacientes, se calhar estavam era cheios de pressa para irem tratar das suas vidas e trataram os miúdos, os meus e os outros, com toda a simpatia e fizeram conversa e tal mas a Manuela foi tão querida, tão querida, tão afectuosa. O António pode ser o nosso tesouro mas para ela era só um miúdo qualquer que se lhe atravessou no caminho, não tinha de o tratar assim.
Mas tratou e este episódio em três partes teve vários efeitos secundários.
Lá continuámos com a nossa vida, dizia eu. No caso do meu filho mais velho, continuar com a vida inclui dedicar um tempo considerável à correspondência.
Oferecemos-lhe um computador no último aniversário e um dos grandes interesses que ele tem na vida é a troca de emails com amigos e familiares. Eu estou sempre à coca, claro, verifico regularmente com quem anda a corresponder-se, o teor dos emails que manda e recebe e se não anda a ser inoportuno. O que constato é que, da agenda de contactos já considerável do meu pequeno, não há ninguém que não seja amoroso e não ache graça ao facto de ele gostar de escrever às pessoas e, desculpem lá, escrever maravilhosamente. A sério, desculpem lá o armanço mas ainda ontem li um email enviado por um responsável por um departamento da Câmara do Porto e pensei que o António, com 9 anos, faria muito melhor que aquilo. Isto diz um bocado de quão bem ele escreve e quão mal escrevia o funcionário da Câmara.
Adiante.
O António, no seu afã de correspondente, perguntou-me se podia enviar um email para o endereço que está no site dos Clã a dizer que tinha gostado muito do Fã e não vi porque não, disse que sim e ele lá mandou.
Uns dias depois, a resposta.
Fiquei tão sensibilizada com esta resposta tão amorosa! É que podiam ter respondido, ter sido simpáticos, mas esta resposta é muito para lá de simpática, é gentilíssima. Claro que o miúdo ficou contentíssimo.
Mas a história não acabou aqui.
No início de Janeiro, fomos os quatro ao Teatro Carlos Alberto ver um espectáculo cujo conteúdo não tínhamos percebido muito bem quando vimos o cartaz.
Teatro? Concerto? Não sabiamos. Fomos porque o António e o Vasco adoram os Clã. Passámos Agosto ao som do Disco Voador - e isso é dizer muito porque em Agosto passámos muito, mesmo muito tempo no carro. Nós adultos, nem éramos muito fãs, embora achasse a Manuela Azevedo uma vozeiraça e o Hélder Gonçalves um grande arranjador. Os outros elementos da banda, para dizer a verdade, nem conhecia.
Ora lá fomos e ... adorámos. Afinal era uma peça de teatro musical, escrita pela Regina Guimarães (portanto condenada a ser boa), encenada pelo Nuno Carinhas, com direcção musical do Hélder Gonçalves. É a história de uma aspirante a actriz muito cheia de minhoquices, a ensaiar num tetaro onde estão sempre a acontecer coisas estranhas que afinal são causadas pelo fantasma do teatro - um fantasma muito giro - que queria chamar a atenção da estrela. Tudo em bom, entremeado por muitas canções, pelos Clã e pelos outros actores.
O texto é muito simples e muito bonito, as canções têm a garra que é o que mais gosto nos trabalhos dos Clã e acho que posso dizer que foi a primeira vez que gostei realmente de uma peça de teatro para crianças.
Não me envaideço particularmente disso mas a verdade é que os teatros a que vou com os meus filhos quase sempre me enfadam, acho tudo muito cutchi cutchi e muito feito-para-pequeninos e desta vez senti-me num espectáculo que interpela toda gente, independentemente da idade.
Adiante que não era nada disto que eu queria contar.
No fim da peça o António pediu para ir cumprimentar o elenco - não há espectáculo em que não o faça - e lá fomos nós esperar para a saída dos artistas. Foram todos muitíssimo simpáticos, mesmo muito, e o António até ficou um bocado emocionado porque reconheceu o Miguel, teclista, que é um dos organizadores do MiniPortobelo, de que somos frequentadores. Lá tirámos a foto da praxe e seguimos com a nossa vida.