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É o filme que fui ver ontem à noite e que o meu marido já tinha ido ver na noite anterior. Interessamo-nos ambos bastante pela figura do Stefan Zweig, o escritor e pensador nascido na Áustria, que nos anos 1930 foi um dos escritores mais famosos do mundo. A fama não evitou (se calhar até contribuiu) que tivesse de sair da Áustria, porque era judeu e Hitler acabava de ascender ao poder. Não foi só o Stefan Zweig, claro, no filme há uma cena que me impressionou bastante, em que numa reunião de escritores de todo o mundo (do PEN Clube, sigla que fiquei a saber que significa Poets, Essayists, Novelists) o orador enumera os pensadores que tiveram de fugir dos respectivos países por serem judeus; uma coisa é conhecermos uma parte dos nomes e respectiva história, outra coisa é ouvi-los assim a seco sabendo o que os anos seguintes reservavam para muitas pessoas oriundas daquela parte do mundo.
O filme não refere mas, tanto quanto sei, Zweig começou por se interessar e até entusiasmar com as propostas que Hitler apresentava para uma Alemanha que estava de rastos mas começou gradualmente a aperceber-se e a alarmar-se com os pormenores que iam transparecendo e com a iminência da guerra que estava para vir.
O Stefan Zweig era absolutamente contra a guerra e sofria com o facto de as pessoas à volta estarem mais preocupadas com a tomada de partido pró ou contra Hitler quando ele, pressionadíssimo para se manifestar contra o regime nazi, achava que tais tomadas de posição eram um desperdício que desviava o foco do verdadeiro problema que era a ideia de guerra e a sua iminência.
Zweig viveu em Inglaterra, nos Estados Unidos, no Brasil e foi lá que se suicidou em 1942, juntamente com a mulher.
Esta coisa de um homem tão atormentado com o rumo da história (e ele nem chegou a conhecer os detalhes e as práticas mais ignominiosas da ideologia nazi) e com o desenraízamento a que se viu forçado, a juntar ao facto de se ter suicidado no Brasil, o país da alegria, sempre me impressionou imenso e o filme veio a calhar. É interessante e tem a curiosidade de ter sido produzido pelo Paulo Branco e ter montes de actores portugueses. E de no genérico inicial Virgílio Castelo aparecer como ''Virgíglio Castelo''.
O bilhete que Zweig deixou quando se matou, em Petrópolis, dizia algo como (tradução via google translator, que sou preguiçosa):
Todos os dias aprendi a amar mais este país e não teria pedido reconstruir a minha vida em
nenhum outro lugar depois do mundo da minha própria língua afundar e ser perdido para mim
e de a minha pátria espiritual, a Europa, se destruir.
(...)
Mas começar tudo de novo após os 60 anos requer poderes especiais, e o meu próprio poder foi
gasto depois de anos de vagabundagem. Assim, prefiro acabar a minha vida no tempo certo,
como um homem para quem o trabalho cultural sempre foi a mais pura felicidade e liberdade
pessoal - a mais preciosa das posses nesta terra.
Ennvio saudações a todos os meus amigos: que vivam para ver o amanhecer depois desta longa
noite. Eu, que sou mais impaciente, vou antes deles.
Stefan Zweig, Petropolis, 22.2.1942
Só mais um comentário depois do comentário ao filme: o interesse pela pessoa deste escritor
veio com a leitura de um livro dele que me veio parar às mãos para aí há 25 anos e que nunca
esqueci (nem reli). Este: