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Já aqui comentei até à náusea que, de tudo o que me define, de todas as escolhas que fiz, acasos, acidentes, opções, gostos, antipatias, em mais de 40 anos que levo de vida (nojo), se tivesse que escolher um traço só seria o facto de ler. Ler, ler, ler. Notem que não me estou a armar em sabichona até porque não vejo nenhum valor acrescido a essa característica da minha pessoa em relação a, por exemplo, outras moradoras deste blog que têm talentos muito mais interessantes e ao serviço dos outros.
As minhas escolhas não tem nada de erudito nem sofisticado, vou-me guiando pelo que leio nos suplementos dos jornais, certos programas de televisão, a net, um arrasta outro e assim fui construindo o meu acervo de eleitos. Há uma data de literatos cujas sugestões sigo com atenção e outros que, se deles emana um comentário elogioso, fujo a sete pés porque sei que vai ser uma estopada.
Gostava de registar para memória futura, dois nomes que, sozinhos, me abriram portas. Não, portões. A caixa de Pandora, a caverna do Ali-bá-bá. Uma percentagem enorme dos meus interesses livrescos (com emanações para a imprensa, cinema, teatro e outros meios) nasceu de sugestões destas pessoas:
Com o segundo, Francisco José Viegas, até ando bastante chateada mas não me vou esquecer, nunca, de como os programas de televisão dele me abriram as esplendorosas portas da maravilhosa literatura que se faz no extraordinário Brasil. Poderia citar de rajada uns 15 nomes que descobri através desses programas, uns ao meu gosto, outros nem por isso, mas que sem a referência dele nunca teriam passado pela minha vida de leitora. Nunca troquei uma palavra com ele mas, imagine-se, é uma pessoa com importância na minha vida.
O primeiro, ah o primeiro! Era um príncipe de educação e de simpatia. Não sendo um dos meus autores preferidos, escreveu um dos livros mais importantes da minha existência, uma coisa tão bonita, tão generosa, tão divertida, tão de agradecimento aos outros, tão de bem com a vida, que é um dos que mais acarinho de entre os que tenho em casa. Já o ofereci montes de vezes (não o meu, credo!) mas só a pessoas criteriosamente escolhidas. Há muitos anos, num assomo de gratidão, escrevi-lhe uma carta e ele, que era um assumido péssimo correspondente, respondeu-me com uma simpatia desmesurada. Eu, toda histérica, escrevi-lhe outra vez e, mais uma vez, teve a gentileza de me mandar uma resposta. Era um amor. E foi nesse livro que li pela primeira vez referências ao Alexandre O'Neill mas isso já é outra história (a minha cabeça e a minha verborreia são uma espécie de hipertexto, incessantemente saltitantes de um assunto para outro).
Desculpem, este espaço não é exactamente para desabafos desta natureza mas eu andava com isto atravessado há imenso tempo, uma vontade enorme de registar estas gratidões. Os destinatários mereciam era uma coisa mais bem amanhada.