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Encontrar em tudo razões para risos.
Fugir da escola à hora do almoço.
Ir às escondidas às janelas da frente ver os rapazes do liceu do outro lado da rua.
Passar tempo com as amigas e desejar ardentemente que o colégio fosse interno para o tempo de diversão se prolongar pelo resto do dia e da noite.
Adoptar comportamentos miseráveis durante o almoço e, quando castigadas e obrigadas a levantar e limpar as mesas do refeitório, portar ainda pior.
Combinar entre todas passar a aula de Religião e Moral a cruzar e descruzar as pernas simultaneamente levando a Professora à loucura.
No fim de uma missa de celebração de um acontecimento especial de que já não me lembro, levar um estalo da mãe por causa da atitude completamente desrespeitosa adoptada (por todas) durante o evento.
Nos intervalos maiores, explorar as áreas proibidas da escola.
Fazer ginástica na capela às escondidas.
Enrolar a saia da farda na cintura para a fazer mais curta, até ela ficar mais parecida com um cinto do que com uma saia.
Desprezar a irmã e respectivas colegas por serem três anos mais novas, pobres diabos.
Ir de carrinha para casa com a amiga Kika que uma vez, a achar-se dona da carrinha por ser das mais velhas da escola, resolveu repreender uma miúda mais nova e lhe saiu: ''vê lá se queres levar um estalo na cara no vidro'' e a miúda mais nova fartou-se de gozar ''no vidro?! eh eh''. Chegar a casa e ficar à porta do prédio a tocar flauta até à exaustão sentindo-se as maiores virtuosas.
Começar o almoço a comparar os conteúdos das respectivas lancheiras e ficar muito desgostosas quando de dentro do termo pingava um bife ressequido e húmido e uma semi-esfera de esparguete colado (à Samicas e à Festarola, isso nunca acontecia, das lancheiras delas brotavam sempre iguarias opíparas).
Ir à molhada buscar a lancheira ao fim do dia e descobrir que alguém tinha roubado o pau que a fechava.
Passar o intervalo do almoço a dramatizar situações que envolviam os Duran Duran e eram escritas, produzidas e protagonizadas pela Kika.
Ir a Londres no 8º ano com a Professora de Inglês e ficar extasiadas, embubadadas, deslumbradas, azamboadas, embasbacadas com a liberdade de que nessa viagem iniciática se desfrutou.
Ficar para sempre muito impressionada com a falta de largueza de horizonte físico, intelectual e espiritual de 85% das freiras de que me lembro.
E, o melhor de tudo: constatar que, tantos anos, tantas experiências, tantas viagens, tantas descobertas, amigos novos, desgostos, interesses novos, filhos, casamentos, descasamentos, interesses diferentes, mudanças de cidade depois, as minhas amigas maiores (que também são minhas madrinhas, minhas afilhadas e mães de afilhados) sejam quase todas desses tempos e continuem a fazer-me rir como faziam nos longínquos anos 80.