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Foi preciso gerir a rotina doméstico-profissional-escolar desta manhã para haver quem ficasse em casa com o Vasco engripado e quem acompanhasse o António a uma consulta no Hospital de Santo António. O objectivo desta era, exclusivamente, discutir os passos a dar em função de um exame muitíssimo específico que ele fez em Dezembro e cuja data tinha sido articulada com a da consulta para que nela o relatório já estivesse pronto. Procedimento habitual em consultas hospitalares, acho. Tudo a rolar até a médica olhar para o monitor e descobrir que o dito exame ainda não estava relatado e, como tal, a consulta perdia a razão de ser. Brilhante. Por acaso, nem nos foi difícil organizar a vida para podermos estar ali a perder uma manhã mas, e se fossemos uma daquelas famílias que vem do fim do mundo para as consultas no hospital? Espectacular.
Depois de deixar o petiz na escola, segui para o Continente para abastecer o congelador familiar de carne. Ir ao talho é uma das obrigações domésticas que mais me custa cumprir porque a minha repulsa por carne tem vindo a agudizar-se velozmente nos últimos anos. De indiferença, na infância/adolescência, cresceu para uma repugnância que não consigo controlar. Não tenho remédio senão cozinhar pratos de carne em casa porque acredito que os miúdos devem habituar-se a comer de tudo e o papá deles não passa sem ela, mas raramente compro outra que não frango e perú, custa-me imenso manipulá-la e não consigo tocar-lhe depois de pronta. Dou o ar, finjo que me sirvo para a miudagem não perceber, mas não provo.
Dito isto, deve dar para perceber quanto me custa ficar 25 minutos especada no balcão da carne com toda aquela vermelhidão diante dos olhos. Leio os mails, olho em volta, o mal estar a crescer. Hoje a coisa até correu bem porque a música de fundo era boa e enquanto rodava esta nos altifalantes consegui evadir-me da carnificina à volta. Mas sempre mal humorada.
Estava a curtir consoladamente a minha fossa quando reparei que a pessoa à minha frente, uma senhora da idade da minha mãe, tinha pedido ''uma bifana fininha para pôr no pão''. Isso, mais de 20 minutos à espera para levar uma bifana de 20 cêntimos e ficou um bocado atrapalhada quando o empregado lhe perguntou com simpatia se não queria pelo menos mais uma, que mesmo assim era menos que o preço de um café. A minha estupidez autocurou-se instantaneamente.
Estou a ler este livro e embora não seja a melhor coisa que já me passou pelas mãos, estou atónita com a relação qualidade/idade do autor que lhe encontro. Tenho lido várias obras de autores jovens, finalistas e vencedores de prémios literários ou simplesmente livros que deram nas vistas, muitos desnecessários, uns poucos muito interessantes, mas em nenhum, absolutamente nenhum que tenha lido, encontro a maturidade e a segurança deste escritor. Se lhe deu o prémio Leya quando ele tinha 24 anos, então o rapaz deve tê-lo escrito para aí aos 22, 23 anos! Fogo, isto merece pontos de exclamação! Na maior parte dos livros de escritores novos, o esforço para parecer que aquilo não exigiu esforço é mais do que visível e às vezes até mete uma certa pena. Neste, nada, népia, impecável, seguro, avança a bom ritmo, a história e a minha leitura.
Quem escreve assim aos 23, como escreverá aos 43?