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Ao segundo dia consecutivo sem pôr os pés fora de casa, posso anunciar que não nasci para animal enjaulado e que me sinto como nos dias seguintes ao nascimento do meu filho mais velho em que a nova dinâmica se apoderou de mim com tamanha intensidade que me sentia a existir dentro de uma bolha e nem dava pelos dias a passar. Só uns tempos depois de ter regressado do hospital, quando sai pela primeira vez de casa e voltei a sentir o ar exterior na cara, é que me apercebi de que a existência de vida fora da minha casa não tinha cessado e que era mesmo bom voltar a sentir a vibração do mundo a girar. Ia só despejar o lixo mas soube-me a viagem ao princípio do mundo.
Daqui a bocado vou sair para ir ao Lidl e jantar em casa dos meus pais e desconfio de que vou sentir a mesma êpifania.
Os meus filhos estão todos contentes com o novo toque do meu telemóvel.
A gripe ou lá o que é, voltou. Desta feita com uma tosse das entranhas que faz doer o peito. Para empatar uma ida ao médico que me custe 4 horas de espera - no privado, entenda-se - a consulta foi pelo telefone. Estou a usar o Ventilan e o xarope dos meus filhos.
É sempre uma coisa boa pormo-nos na pele dos outros e, tal como naquela vez em que me obrigaram a provar o Brufene do António para me deixarem entrar num avião com o frasco, tenho pensado bastantes vezes
mas como é que os miúdos aguentam isto com tanta frequência e com tão bom-humor?
Já eu ... eu pareço uma esfregona, na disposição e no aspecto. Molhada. Das mais rascas.
Esta é a série que andamos a ver. Estou a gostar imenso mas causa-me duas perplexidades:
Que retorcida deve ser a imaginação dos argumentistas para inventarem uma primeira-ministra tão séria e de tanta lisura no exercício das suas funções. Como se existissem políticos deste gabarito...
Existe realmente um fosso cultural (ou de outra natureza que não consigo nomear) que me impede de me identificar com imensos comportamentos dos dinamarqueses, sobretudo na gestão das relações afectivas. Sinto uma distância equivalente na relação com certos amigos de outros países - aqui não é na televisão, é mesmo na vida real - quando falamos dos laços familiares, da educação dos filhos, do casamento e de assuntos afins. Aquilo que contei num post de ontem sobre os meus pais se terem largado de Lisboa para o Porto em meia dúzia de horas por terem achado que eu precisava de apoio seria simplesmente incompreensível para eles, coisa de gente dada à histeria e ao excesso.
Oh, que doce é ter tido a fortuna de nascer na Europa do sul.
a) procurar uma casa maior que, para ter um preço compatível com as nossas possibilidades, tem forçosamente de ser num sítio menos interessante (sendo que para mim 90% do Porto é menos interessante do que as nossas bandas);
b) sair de casa durante uns meses e fazer a ligação ao sótão que nos amplia a casa um bom bocado mas não tanto que um dia consigamos recuperar o investimento na venda;
c) não fazer nada e continuar a viver cada vez mais uns em cima dos outros.
São as hipóteses a jogo.
Como se adivinhava, acabei por não concretizar nenhum dos planos de fim de semana por causa da gripe que me derrubou. Não me lembrava da última gripe que tinha tido nem tinha a noção de como uma doença que eu achava que nem era doença pode deixar uma pessoa tão combalida. Nem cheguei a ter febre alta, não deve ter sido uma gripe pesada, mas o que tive chegou para me deixar a sentir-me abaixo de trapo. Foi, no entanto, uma gripe de luxo: a manhã de sábado foi passada na cama enquanto na sala papai se dedicava a elaboradas construções com os pequenos. O estado em que a sala estava quando lá entrei é que ... adiante, que não fui eu que a arrumei. De tarde foram todos dar uma volta e eu fiquei na paz, a paz dos arrepios e dos tremores mas de qualquer modo em silêncio. A meio da tarde, uma mensagem do meu pai que rezava assim:
''estamos na mealhada. vamos a tua casa e levamos os miúdos para dormirem na nossa''.
Como não tinham apreciado a minha voz - ou a falta dela - no telefonema da manhã, os meus pais, numa atitude muito sua, meteram-se à estrada e vieram de Lisboa para o Porto para me aliviarem o fardo e às seis da tarde já me estavam a entrar pela porta adentro. Com jornais, fruta e uma mala térmica atulhada de refeições. E croquetes do Califa. Só visto.
Venham mais gripes.
Foi por volta de 1996 ou 1997, tinha eu 26 ou 27 anos e foi mais do que merecido. Na altura, dava explicações de Matemática a muitos alunos de várias faculdades de Lisboa. Adorava dar essas explicações que durante vários anos foram o meu trabalho e um trabalho bem rentável, financeiramente e na satisfação que me davam. Conheci montes de gente - foram mesmo tantos que não consigo recordar todos - e houve muitos que me deixaram gratas recordações. O primeiro foi o G., uma amor de rapaz que aindava para aí no 7º ano quando começámos, estando eu nos primeiros anos do curso. Na primeira lição falámos já não sei de quê mas lembro-me que quando ele foi para casa e a mãe lhe perguntou se já sabia fazer contas de dividir, ele respondeu ''não, ela também não sabia!''. Era verdade mas não impediu que ali nascesse uma simpática relação professora-aluno que durou imenso tempo e da qual nasceram outras e outras e outras. O aluno que me ficou como o mais simpático de todos era o F., que bem gostava de reencontrar. Não teve muitas explicações mas como andavam por lá vários primos e a namorada dele, mantivemos o contacto durante algum tempo. Estava muito pouco interessado na matéria, só queria safar-se, e ficou a achar que eu fazia milagres quando teve teste de Álgebra Linear logo a seguir à primeira explicação e conseguiu ter 10. Porque era espero e realmente apanhou tudo o que se disse na explicação, porque a disciplina era fácil e porque o teste tinha sido especialmente fácil. E, claro, 10 era uma nota da treta mas a ambição dele, no início, não era grande. Era uma rapaz amoroso que acabou por mudar de curso e tirar Arquitectura Paisagista e que nas férias andava em barcos ao largo dos Açores a contar golfinhos.
Onde é que eu ia? Ah, o estalo.
Durante dois semestres dei aulas a dois amigos que também adorava. Um, já conhecia, o outro era amigo do primeiro. Eram dois rapazes impecáveis, que me faziam rir até à exaustão de tão cómicos que eram. Eram alunos muito capazes mas as disciplinas em causa eram bem difíceis e passava metade do tempo da aula a tentar lembrá-los de que ali o tempo era o dinheiro deles e para se calarem e andarmos para a frente. Quando fizeram a últma disciplina ficaram tão contentes - e eu também - que me convidaram para jantar e eu, claro, aceitei com muito prazer. Se não me engano, fomos ao Alcântara-Mar e a seguir ao (defunto?) Plateau. O máximo. Não me lembro do que fizemos a seguir mas como a noite acabou sei muito bem. Desaguámos no Cinearte quase de manhã e tivemos a enorme sorte de lá estar o Jorge Palma, num estado muito pouco recomendável, a cantar para os amigos. Quase a cair da cadeira (ele, não eu), nunca mais o vi a cantar tão bem.
Para acabar, cheguei a casa às 8h da manhã e fui recebida pelo meu pai, ainda vestido, que ainda antes de dizer fosse o que fosse, me pregou o maior estaladão na cara de que há memória. Eu tinha saído às oito da noite, dizendo que ia jantar com dois alunos, e só voltei a aparecer em casa na manhã seguinte sem dizer água vai nem ir a uma cabine telefonar (ainda não havia telemóveis, está bem?). Os meus pais estavam doidos de preocupação e iam começar a telefonar para os hospitais.
Abençoado estalo, devia ter dado muito mais. Oh, doce estupidez da juventude.
Lembro-me desta história de cada vez que vejo o Jorge Palma na televisão ou quando o vejo ao vivo, que é o que vai acontecer na próxima 3ª feira.
Uns têm natação, outras têm catequese e dança. Mais uma festa de anos, um jantar aqui, um almoço acolá, é esquisito constatar que a disponibilidade dos adultos para marcar um encontro* é maior que a da miudagem.
Foge, no meu tempo não era assim!
* Isto sou eu a acreditar que quando o efeito do Brufen passar vou continuar a conseguir manter-me de pé.
Raios que me percorrem o corpo, de baixo para cima.
Dores de garganta.
Tosse seca enervante e indomável.
Dores em músculos que não sabia que tinha.
Tenho tantos planos para o fim de semana..
Gripe, não, por favor.
Nãão!
Cena #1 (mãe e filho a sós)
- Vasco, o Carnaval está quase aí, de que é que gostavas de te mascarar?
- Polvo.
- OK, vou ver o que conseguimos fazer. Mas, para o caso de ser difícil fazer uma roupa de polvo, há alguma outra coisa de que gostasses? Outro bicho, uma profissão?
- Não, não, é mesmo polvo que eu quero, não há mais nada de que eu goste.
Cena #2 (mãe e os dois filhos)
- Meninos, vamos então acertar de vez as máscaras que gostavam de ter no Carnaval. O Vasco já disse que quer ser um polvo. E tu, António?
- (António ou Soldado)) Pinguim.
- OK, deve ser fácil. Fica combinado, Vasco, polvo e António, pinguim, certo?
- (António) Sim, sim!
- (Vasco ou Rico) Nããão, eu quero ser um pinguim, era isso que eu queria, não quero nada ser um polvo...
- (Mãe) Recorre aos princípios do mindfulness que tem andado a descobrir e consegue não dar um chuto no rabo do menino.
(Nota: eles viram várias vezes o filme dos Pinguins de Madagáscar, daí o forte ataque de polvite e pinguinite que os tem assolado.