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No mais grave ataque a um avião civil até então, no dia 3 de julho de 1988, um navio dos Estados Unidos derrubou um Airbus da Iran Air, matando todas as 290 pessoas a bordo, entre elas 57 crianças. À entrada do Golfo Pérsico, no Estreito de Ormuz, um míssel foi disparado do cruzador americano “Vincennes”, que confundiu a aeronave, no radar, com um caça F-14. No dia seguinte à derrubada do seu avião comercial, o Irã, em represália, ameaçou atacar os interesses dos EUA em todo o mundo. Já o presidente americano, Ronald Reagan, lamentou a “terrível tragédia”, ressalvando, contudo, que o Airbus voava em direção ao cruzador e não atendeu às repetidas advertências para se desviar, e as baterias do barco seguiram as normas de rotina, disparando para protegê-lo de um possível ataque.
Em comunicado urgente enviados a todas as embaixadas e consulados dos EUA, o Departamento de Estado alertou para possíveis retaliações dos iranianos. O líder religioso do Irã Aiatolá Khomeini declarou guerra total ao "Grande Satã". No Líbano, militantes do grupo xiita Hezbollah saíram às ruas gritando lemas antiamericanos.
O Airbus decolara de Bandar-Abbas, no Irã, com destino a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, do outro lado do Golfo. O avião cruzava o estreito no momento em que o Vincennes e outra fragata, a Montgomery, trocavam tiros com lanchas iranianas que pouco antes haviam metralhado um helicóptero dos Estados Unidos. Na época, a Casa Branca apoiava o Iraque, do ditador Saddam Hussein, que desde 1980 estava em guerra com o Irã, do aiatolá Khomeini, líder do regime islâmico que derrubou o governo de Teerã, aliado de Washington, em 1979.
Duas semanas após o ataque, investigação do Pentágono admitiu que o avião iraniano foi abatido por vários erros cometidos pela tripulação do cruzador americano. Segundo os investigadores, não foi constatado defeito na sofisticada tecnologia do radar a bordo do navio de guerra dos EUA. Teerã recebeu dos Estados Unidos uma indenização de 101 milhões de dólares.
Antes, o caso com maior número de vítimas havia ocorrido em setembro de 1983, quando aviões de combate soviéticos derrubaram um Boeing 747 da Korean Airlines, matando as 269 pessoas a bordo. A aeronave fazia o voo Nova York-Seul, e foi abatida depois de se desviar 160 quilômetros de sua rota e sobrevoar a Ilha Sakhalina, no Leste da União Soviêtica (hoje extinta) e ao Norte do Japão. Naquela ocasião, a tragédia provocou uma onda de protestos no mundo e abriu grave crise entre EUA e URSS no Conselho de Segurança da ONU. Na semana passada, o míssel disparado no Boeing 777 da Malaysia Airlines, na fronteira da Ucrânia com a Rússia, matou 298 pessoas. O voo ia de Amasterdã para Kuala Lumpur. Autoridades ucranianas e os EUA acusam os separatistas pró-Rússia de serem os responsáveis pelo ataque. Os separatistas negam.
Então sente-se basicamente açoriano?
Costumo dizer: quando fui para a Terceira, percebi que era micaelense. Na Madeira, senti-me açoriano. Em Lisboa, vi que era insular. Em Espanha, reconheci-me português. Em Paris, já era ibérico. Nos EUA, europeu. Na China, achei-me decididamente ocidental. Se um dia for a Marte, hei-de sentir-me terrestre.
Onésimo Teotónio de Almeida
Público
3.7.2014
Quem diz isto é uma jornalista/escritora que, não sendo da minha eleição, não é nada desprovida de perspicácia.
Alexandra Lucas Coelho, na última Ler.
Na última arrumação da estante recuperei para a mesa de cabeceira a minha colecção deste livros hilariantes, monstruosos e subversivos em que não pegava para aí há 10 anos.
Ah e tal, agora é a mania dos sumos com couves, que ridículo, isto é tudo modas, agora é o detox, falam disso nos blogs e na televisão e vai tudo atrás, que parolada, coiso e tal.
Ora olhai o meu frigorífico, num registo de ontem à noite:
Quando o meu filho António era pequenino e eu estava de licença sem vencimento, com todo o tempo do mundo, fiz-lhe um jogo de memória, daqueles em que é preciso virar cartas e formar pares, com fotografias da nossa família e de amigos. Foi um grande hit, que jogámos e jogámos e jogámos, até o termos arrumado durante uma data de tempo e termos ido brincar com outras coisas. Recentemente o jogo saiu outra vez da prateleira, nesta segunda vida já com a participação do Vasco que, por não ser nascido quando construí a coisa, não aparece em nenhuma carta, uma situação que tenho de rectificar rapidamente. Eles adoram aquilo e todos os dias temos de jogar mais do que uma vez. É uma ideia facílima de concretizar até para desprovidos de imaginação e talento para manualidades como eu e dá um gozo enorme ouvi-los a jogar e tecer comentários de quem conhece bem coisas que aconteceram décadas antes de terem nascido:
''Carro que o avô Luís tinha quando casou!''
''Avó Mimi quando tinha 20 anos!''
''Pai a andar de mota na Índia na tarde em que caiu e esfolou o braço todo e tiveram que ir a um mercado comprar Bétadine!''
''Francisco no pote a fazer cocó quando tinha 1 ano!''
''Gémeas quando vieram cá a casa conhecer o António quando ele nasceu!''
''Tia P. a fazer o pino no sofá do escritório do Avô!''
''Miguel da Teresa a andar de burro quando foi ao Brasil com 1 ano e a viagem demorou dois dias de avião e camioneta para uma aldeia muito longe!''
Confirma-se, ouvi há pouco na TSF, que o avião da Air Algérie que desapareceu dos radares se despenhou, com 116 pessoas a bordo. Dispensava-se o tom excitado da jornalista a relatar a confirmação da existência de 50 franceses a bordo, informação de última hora a conferir à tragédia uma importância que a opinião pública não lhe daria caso o avião só transportasse gente do Burkina Faso ou do Mali.
Quanto vale a vida de uma pessoa? Em tempos folheei um livro em que se dizia que a vida de uma pessoa num país rico vale dez vezes mais que a de uma pessoa num país pobre. Estou tentada a concordar. E onde o livro dizia rico/pobre, também podemos ler branco/negro, europeu/não europeu.
É gigante e assustadora a nossa incapacidade para nos colocarmos na pele do outro, quando esse outro é de outra cultura, de outro estrato económico, de outra cor e desconfio que nunca nos cruza o pensamento que em muitos sítios e para muita gente, o Outro somos nós.
Sobre o tema d'O Outro, vou reler este livro extraordinário deste jornalista - agora é moda dizer que ele inventava pormenores para abrilhantar as reportagens, quero lá saber - que é o único jornalista que conheço que é tão extraordinário escritor como jornalista.
Parece-me que a edição portuguesa está esgotada. A boa notícia é que é o tipo de livro que se encontra por 2 ou 3 euros nas feiras de livro das estações de metro. Não o deixem escapar, a este nem a nenhum do mesmo autor.
No sábado tivemos o primo Francisco a dormir cá em casa. O programa incluiu festa do pijama que eu converti em festa da T-Shirt porque não me dava jeito nenhum ter de lavar 3 pijamas adicionais para os libertar da camada de suor com que as roupas ficam no fim de tais festas. Como chegámos a casa muito tarde e eu queria despachá-los, a festa consistiu em apagar as luzes da sala, pôr duas ou três taças com bolachas e Smarties em cima da mesa e pôr a canção ''Eye of the Tiger'' a rodar no youtube enquanto eles se espolinhavam no chão a ... dançar (dizem eles). Adoraram, claro. O Francisco disse ter sido uma das melhores festas de sempre e, pelos vistos, nenhum se apercebeu de que só durou uns 10 minutos prque era quase meia-noite.
Para entreter a pequenada, também promovi um concurso de construções de Lego que à partida estava ganho pelo Francisco, absolutamente brilhante a inventar seja o que for. Fez um dinossauro que dobrava o pescoço que, como sempre, dava 10 a 0 às coisitas feitas pelos primos. Eu e o tio fizemos uma reunião do júri e deliberámos que era tudo tão bom, tão bom que havia prémio para todos mas o dinossauro que dobrava o pescoço ficava com o 1º lugar.
Um bocado mais tarde, andávamos nós a passear em Serralves e o Francisco segreda-me ''eu já sabia que o tio S. ia gostar do meu dinossauro''. E eu a puxar por ele ''a sério? mas porque é que achavas que ele ia gostar?''. E diz o nosso sobrinho ''porque eu sei que ele gosta de coisas assim ... modernas.''
Possivelmente espicaçado pelo sucesso que os livros do primo fizeram entre amigos e parentes, o António decidiu deitar ao mundo meia dúzia de histórias ilustradas. Esta manhã, quando andei a arrumar vários quilogramas de desenhos e materiais produzidos durante o ano lectivo, esbarrei com uma data de coisas de que já não me lembrava e que me fizeram partir a rir. Por exemplo, este livro que eu julgava ter ficado incompleto mas que o António pelos vistos completou sem eu dar por nada. O tema da morte devia andar a perturbá-lo na altura, pela quantidade de personagens que há a ''falcer''. Gostei do pormenor do ''mas não faz mal porque já tinham 25 anos'', está visto que na cabeça dele uma pessoa de 25 anos já saberá lidar com facilidade com as questões que atormentam uma de 7. Também gostei do final atamancado para despachar, o Vasco devia estar a destruir alguma construção de Lego importante para ele e precisou de rematar a história rapidamente.