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- Mãe, a garagem da tia Patrícia é quase igual à da avó mas em amarelo-alaranjado!
- Mmm? Quê? Dorme que é cedo...
- Eu gosto muito do avião de Primeiróbil do Kiko, é tão fixe!
- Podes pedir um avião de Playmobil nos teus anos, OK? Dorme.
- Gosto muito do Lourenço, ele dá-me miminhos...
- (Já desperta, que remédio) E do Francisco, não gostas?
- Gosto! Ele faz palhaçadas. Quero ir brincar.
- (Rendida) Está bem, vamos lá brincar com os Playmobil.
(para o Vasco é Primeiróbil, para o António, na mesma idade, era Peneilóvil)
Ao longo do dia, o meu pai vai mandando via WhatsApp fotografias do António (meu) e do Francisco (da minha irmã) que estão lá em casa a passar estes dias. Verifico que há um padrão na maior parte dessas fotos: o olhar de admiração do António para o primo (1 ano mais velho), o braço de um à volta dos ombros do outro enquanto caminham, os sorrisos permanentes e desdentados.
Muitas vezes agradeço interiormente aos meus pais terem-nos proporcionado todas as oportunidades que desejámos para que nos viéssemos a safar bem em, pelo menos, uma língua estrangeira. Tanto eu como a minha irmã tivemos a sorte de nos cruzarmos com a mesma excelente professora de inglês nos tempos da escola, tivemos inúmeras oportunidades de viajar e quando tivemos vontade, ambas frequentámos o magnífico British Council, lá para as bandas do Príncipe Real. Andei por lá um ano de muito boa memória, com um professor excelente, um neozelandês chamado Devo, com quem aprendi montanhas de coisas não directamente relacionadas com a língua inglesa, que fui melhorando sem dar por isso. Por exemplo, foi com ele que ouvi falar, pela primeira vez, nesta magnífica banda desenhada em que fui vidrada durante muitos anos.
É graças aos encontros felizes que fui tendo e ao investimento dos meus pais que actualmente me é fácil comutar automaticamente entre o português e o inglês quando as circunstâncias o requerem e essa facilidade tem-me sido extraordinariamente útil na minha profissão.
Depois ... depois há cenas como a que vivemos no fim de semana passado: tinhamos ido almoçar fora e no regresso ao carro fomos abordados por duas turistas francesas de mapa na mão, que queriam saber como se chegava a Serralves a pé. Ora dava-se o caso de estar um calor abrasador, de as senhoras já suarem e arfarem por todos os lados, de o caminho para Serralves lhes demorar uns valentes 45 minutos e ter uma subida respeitável e de nós irmos para esses lados. Queria oferecer boleia às senhoras mas não me saiam as palavras. Com elas já dentro do carro, queria conversar e não me saia nada. Queria desejar-lhes boas férias e a língua enrolava-se-me. Que nervos, que irritação! Caraças, eu aprendi algum francês na escola, tenho ido uma vez por outra a países onde ele se fala, durante muito tempo via toneladas de filmes franceses, como é que cheguei a este ponto de entupimento para articular meia dúzia de frases?