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Resposta: um dos melhores livros que li na vida e eu leio muitos e muito bons.
Não, não estou a exagerar, uma das (poucas) coisas para que muitos anos de leitura desenfreada me têm servido é conseguir distinguir em poucas páginas um livro bom de um livro que não o é. Não quer isto dizer que me identifique sempre com as obras boas, montes de vezes não tenho fôlego, nem capacidade, nem paciência para elas, não consigo entrar, não são para mim. Mas reconheço-as e percebo muito bem o travo diferenciador que lá há. Por exemplo, achei o aclamado 2666 do Roberto Bolaño um grandessíssimo pastel, não consigo ler o Ulisses do James Joyce, tenho grandes dficuldades com a Agustina Bessa-Luís (esta tenho alguma vergonha de admitir). Mas sei muito bem o que as torna obras maiores.
Já em relação às fracas, cada vez sou mais incapaz de as gramar e de lhes suportar a existência. É verdade, porque raio é que nos tempos que correm qualquer pateta que alinhave uns parágrafos sem muitos erros se acha habilitado a ser a revelação literária da season? Faz-me uma confusão do caneco, já há tanto livro publicado, para que são precisas mais trampas como as que saltam à vista nos escaparates de quase todas as livrarias? Não perceberão as pessoas - gente das editoras incluída, que muitas das merdices que para aí vão aparecendo a bailar ao ritmo dos temas que estão a dar são encomendas feitas aos autores, apresentadores de televisão, bloggers com muitos milhares de visualizações, cozinheiros da moda*, médicos do programa da Conceição Lino, o que for - que as coisas com que nos bombardeiam acabam esquecidas no fundo do armazém ao fim de meia dúzia de semanas, vendidas a metro em feiras do livro de estações de metro sem terem deixado lastro na cabeça de nenhum leitor? Vaidade e negócio, deve ser isso, só pode.
Mas era do livro que tenho em mãos e na cabeça que tencionava falar. Chama-se Canadá, o autor é o até agora para mim desconhecido Richard Ford, e é um livro absolutamente perfeito, um primor na clareza, economia de palavras, contenção, tensão, no relato implícito da solidão dos personagens, sobre como o desespero pode levar a mais normal das pessoas ao mais tresloucado dos actos.
Acabadinha de ler O Herói Acidental do Mário Vargas Llosa, que amei, adorei, achei maravilhoso, li de um fôlego, ouvi O Livro do Dia e estoutro aterrou-me nas mãos. O Herói Acidental é um livro belíssimo mas o Canadá joga noutro campeonato, trata-se de outra coisa, é daqueles livros (felizmente não raros) que lançam luz sobre os nossos lugares obscuros. Sim, confirma-se, é um dos melhores livros que já tive a sorte de ler.
*Exceptuando o livro da doutora Ágata Ruíz de la Prada Roquete, que esse eu comprei e tem receitas bem boas.
Chorei a rir. E fui ver quem é o Raúl Meireles (parece o António Variações e sem barba até tem muito bom ar).