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O meu home ficou com um ar babado quando leu este post. Pode ser que agora prescinda de ver os Pixies e vá antes comigo ver o Caetano no Optimus Primavera Sound.
Hoje ofereci boleia a um senhor de idade que mora na minha rua. Passa diante das nossas janelas várias vezes por dia, às vezes sozinho, outras com a mulher, muitas vezes à conversa com gente dali. Eu, a meter a tralha no carro quando ele passou e me cumprimentou, perguntei se queria que o levasse a algum sítio. Que sim, muito obrigado, ia para a Rotunda da Boavista, esquina com a Avenida de França.
Lá fomos. Fiquei a saber que tem 85 anos, nasceu na Rua 5 de Outubro, mora lá na rua há 40 e tem duas irmãs mais novas. Uma mora lá perto, ao pé da ...
E aqui a conversa encalhou. O senhor puxava, puxava pela cabeça e não lhe saia a referência que me queria dar sobre a vizinhança da irmã. E assim fomos durante metade da Avenida, com o senhor a tentar e a memória a não deixar. Quando estava quase a sair do carro, conseguiu. Foi triste e embaraçoso.
Lembrou-me o dia, para aí há um ano, em que eu própria deixei de saber a palavra para o objecto que temos pousado atrás da sanita e que se usa para a limpar em situações limite. Foi horrível e não teve nada a ver com não reconhecer o objecto, não saber o que era, nem foi bem ter-me esquecido do nome. Simplesmente puxava, puxava mas parecia que uma conexão qualquer entre partes do meu cérebro com funções diferentes se tinha perdido. Pedri a capacidade de associar a palavra ao objecto que reconhecia perfeitamente. Ao fim de dez minutos de desespero e de ter usado sem sucesso aquelas estratégias a que se recorre quando nos esquecemos daquilo em que pensávamos um segundo antes, fui à net, escrevi ''escova limpeza retrete'' no google e, finalmente, consegui articular a palavra: piaçaba.
Depois disto mantive-me alerta, pronta para marcar consulta com o melhor neurologista do norte, a ver se situações destas se repetiam mas, até hoje, nada. Já arrumei o assunto para trás mas posso garantir-vos que foram momentos imensamente angustiantes, aqueles em que o meu cérebro parou de dar resposta. Será assim que se sente uma pessoa de 85 anos?