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Nós vivemos da misericórdia dos mercados.
Não fazemos falta.
O capital regula-se a si mesmo e as leis
são meras consequências lógicas dessa regulação,
tão sublime que alguns vêem nela o dedo de Deus.
Enganam-se.
Os mercados são simultaneamente o criador e a própria criação.
Nós é que não fazemos falta.
(Luís Filipe Castro Mendes, A Misericórdia dos Mercados, Assírio & Alvim, 2014, p. 81)
A ver o ''Prós e Contras'' de ontem, com a plateia povoada de pais e de pessoas com deficiência, foram estas as palavras que me ocorreram. Vou tentar voltar a este assunto.
Mas fica já aqui o registo do gozo que me deu ouvir uma mãe a corrigir com alguma impaciência a moderadora que a apresentou como ''mãe de um autista''. Lembrei-me de em tempos ter ficado consumida de raiva com a estupidez de uma radialista que faz entrevistas aclamadas - e muitas vezes muito interessantes - que apresentou o escritor Valério Romão como ''pai de um autista''. Ontem, ao ouvir a mãe ''sou mãe de uma pessoa com autismo'', expirei com algum alívio porque fiquei a saber que não sou eu que estou a ver mal as coisas e que dizer ''um autista'', ''tem um filho autista'', embora seja verdade em sentido literal, comporta sempre uma redução da pessoa a uma parte do que ela é (mesmo quando é uma parte que ocupa um espaço tão grande na pessoa e na família), é uma falta de respeito e, no limite, uma forma de a excluir.
O programa de ontem foi muito interessante, por muitas razões, gostava imenso de voltar a falar sobre isso. Vamos ver se arranjo tempo e capacidade.