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O Vasco inaugura a maior parte dos dias com uma pergunta sussurrada ao meu ouvido - ele acorda quase todos os dias ao meu lado, ora na cama dele, ora na minha, consoante quão pedrada estou quando ele chama a meio da noite. Tem 3 anos e anda a interessar-se muito por questões relacionadas com a morte, a velhice, a relação com os outros, o corpo, o que é certo e errado, para onde é que a polícia leva os ladrões, para onde é que vai a água da sanita, porque é que os crocodilos mordem, quase todas de resposta difícil (sobretudo quando aparecem de madrugada), todas formuladas com inocência mas a transparecer muita vontade de se situar e descobrir como se relacionar com os outros.
Claro que nos escangalhamos a rir e o achamos o mais querido e o mais espertinho do mundo mesmo sabendo que é como os outros e que nesta idade todos fazem perguntas assim. Só que o Vasquinho tem a particularidade de acordar sempre a fazer uma pergunta, como se tivesse passado a noite a tentar processar os assuntos que o atormentam e o rol de perguntas da manhã já é tão vasto que daqui em diante vou pô-las aqui. Pode ser?
E a de hoje foi:
Se os meninos escreverem nas paredes das salas as mães ficam zangadas, não ficam?
Adorei o plural. A razão da pergunta é, tenho a certeza, o episodio do Ruca que viu ontem à noite, em que a irmã bebé riscava desenfreadamente a parede da sala.