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Assumo perante todos os leitores a minha óbvia inferioridade em relação à Samicas no que toca a bolos de aniversário:
O meu filho F. fez hoje 7 anos (!!).
Os festejos ficaram adiados uma semana até que a família mais próxima se possa deslocar a Lisboa.
De prenda recebeu duas tartarugas: Kalandraka e Fungagá Sammy (alteração de última hora).
Será que consigo convencer o meu filho com esta?
Este.
Para dar vazão a todos os posts que me ocorrem. E não me venham com essa do ''como é que tens tempo?'' que a coisa não tem nada a ver com ter tempo, tempo há quase sempre, o que pode falhar é a disposição. Mas essa a mim assiste sempre, que nervoseira! Já escrevi muitos posts às 2h da manhã agendando-os para aparecerem na manhã seguinte, é giro. Há sempre tantas coisas, tantas coisas interessante a acontecer que, fosse eu capaz de as traduzir em textos de jeito e, sobretudo, canalizar esta ... mmmmm .... compulsão para um objectivo com alguma utilidade e seria um espectáculo. Infelizmente:
a) Estou rodeada de pessoas cujo ofício é a escrita e são tão boas, tão boas nisso que é um atrevimento e uma inconsciência da minha parte andar para aqui a alinhavar posts mal enjorcados.
b) Não me posso esquecer que este blog não é só meu e que é foleiro entrar no site e ver que os últimos 2 ou 3 ou 4 posts são escritos por mim(*). Por isso, lá está, precisava de dois ou três blogs para publicar todos os posts que me ocorrem.
(*)Se bem que, se as minhas amigas não escrevem ... escrevessem, cuabreca! Chatas! (que é o insulto mais forte que o meu filho de 5 anos conhece e larga em momentos de raiva incontrolada, até o Rei de Espanha já foi brindado com este mimo.
Nos saudosos tempos em que não me escapava uma oportunidade de trabalho/estudo/passeio fora do país (e foram taaantas!) estabeleci-me por uma temporada de armas e bagagens na gloriosa cidade do Rio de Janeiro. Foram meses ma-ra-vi-lho-sos em que, acho que não exagero, esmifrei tudo, tudo o que de fabuloso a cidade colocava à minha disposição: varrer o mapa de boa parte da cidade (admito que com preponderância da Zona Sul mas não só), cinema, concertos, praia, teatro, livrarias, exposições, jornais, revistas, restaurantes, fazer amigos, conhecer gente. Vivi num hotel durante um mês, um sítio modesto em Botafogo, mas senti-me tão bem lá que foi com muita pena que saí. Lembro-me de que a primeira vez que me senti completamente em casa na cidade foi num dia em que vagueava à chuva pelo caos do fim da tarde na Avenida Nossa Senhora de Copacabana e ouvi um voz a gritar o meu nome. Era o recepcionista do hotel e eu pensei ''fogo, já encontro gente conhecida na rua!''. A cena repetiu-se uma data de vezes, lembro-me de outra em que ia a sair do sítio para onde fui estudar já a noite tinha caído, caminhava junto à grade do Jardim Botânico com muito pouca luz, passou um carro apinhado de homens tão escuros que quase não se viam contra a noite e, mais uma vez, uma voz - já não a suavidade da voz delicadíssima do recepcionista mas o estrondo do vozeirão do porteiro/segurança da escola: ''a sua amiga Catarina telefonou de Portugal!''. Se tivesse vivido esta cena no Porto, sentiria medo, no Rio esse pensamento nem me cruzou o espírito. De outra vez, quando os meus pais me foram lá visitar, andávamos a passear no calçadão de Ipanema depois do jantar e, again, várias vozes a chamar por mim, desta feita dos amigos portugueses que estavam a fazer um piquenique na praia. Eu estava mesmo em casa.
Não era sobre nada disto que eu queria falar mas quando me transporto a esses tempos (já disse que foram gloriosos?) não consigo controlar o curso das recordações. Ah, já sei, era isto que ia contar:
Na segunda etapa da estadia, mudei-me do hotel (e lembro-me tão bem da minha saída, de táxi cheia de malas, com o staff do hotel perfilado à porta a abraçar-me e a acenar) para um T0 em Ipanema que noutro dia tentei visitar via Google Maps com o meu filho para descobrir que o prédio estava em obras e completamente diferente. Num dia, por alguma razão de que não me lembro (para aí certificar-me de que haveria quem recebesse uma encomenda feita online), perguntei ao porteiro do prédio ''a que horas começa a trabalhar amanhã?''. Ele olhou para mim com estranheza ''oi?''. Repeti. Ele repetiu. Falei (ainda mais) pausadamente. Ele, incompreensão absoluta. ''A-que-ho-ras-co-me-ça-a-tra-ba-lhar-a-ma-nhã?''. Um lampejo de compreensão, depois estranheza, aquele medo que nos desperta um louco descabelado a interpelar-nos na rua ''a senhora quer saber quanto eu ganho???''.
Um dia destes volto ao Rio, aqui no blog e na vida real.
Já tinha aqui contado que o autocarros são a religião dele, não tinha? Tentamos não cultivar muito essa obsessão mas hoje fui imprimir umas t-shirts para oferecer, tinha esta imagem na pen e não resisti. Como era de prever, ficou emocionado. Na hora de dormir, implorou-me que deixasse a t-shirt num sítio onde a conseguisse ver enquanto adormecia e lá fiz o que me pedia. Mais uma razão para me estar a converter ao belicheismo, o beliche dá um bom cabide quando os filhos pedem coisas esquisitas.
Passou o fim da tarde (de certeza que o resto do dia também mas eu não estava em casa) a pedir ''dee-zay, dee-zay'' que é como quem diz a canção que fala da profissão DJ. Avizinha-se saturação, profunda saturação.
Tão longe está ele de imaginar que tempos houve em que a visão de um dos objectos que lá estão representados me aterrorizava porque me transportava ao dia em que, numa consulta de rotina, a pediatra comentou ''mmm, reflexos um bocadinho vivos'' e eu, ignorante, perguntei ''o que é que isso quer dizer?'' e ela ''pode estar associado a algum problema neurológico''. Na altura a conversa pareceu-me despropositada mas pouco tempo depois entrámos numa espiral de medo cujas ondas de choque ainda hoje, com o assunto chutado para bem longe, me atazanam.
Fez ontem 16 anos que nasceu o meu primeiro tesouro.
A maior maravilha que Deus me deu: os meus filhos.
É uma felicidade incomensurável e parece que foi ontem que nasceram.
Os dirigentes políticos estão doidos. A sério, se a classe que controla o leme da Europa não está num estado de loucura, anda lá muito perto.
Eu pensava que o euro era um dos elos principais que consolidavam o processo comunitário porque uma união financeira e bancária forte traduziria um verdadeiro e sólido espírito de união mas o que se vê, de uma maneira que a cada dia se torna mais obscena, é que essa gente arrasa pela base todo o esforço dispendido pelos construtores da comunidade europeia.
Anunciam-se medidas e depois recua-se. Fazem-se promessas estruturantes para o futuro do país e das pessoas que são deitadas fora sem pestanejar. Como não havemos de nos interrogar sobre a capacidade de quem nos governa com tanta ligeireza e arbitrariedade? Que estudos sustentam estas medidas que tão depressa como são tomadas são revogadas?
Confiscam as poupanças dos cipriotas e eu tenho a certeza de que por cá farão coisa parecida. O princípio da inquestionável segurança do sistema bancário que era dado como um dado adquirido já foi posto em causa, o precedente está aberto e pode ser aplicado noutro lado qualquer.
Os políticos portugueses e europeus não respeitam princípios e o mal que nos estão a fazer não tem reparação.
Os discursos balofos dos ministros insultam e fazem germinar instintos desconhecidos e sombrios. É gente sem princípios, sem inteligência mas com manha, sem palavra, sem formação, sem apreço e com desprezo pelas pessoas, sem estatura, sem consciência cívica, ignorantes nas questões essenciais do serviço em prol do bem comum.
Até quando?