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Cena I
Há uns anos, duas amigas minhas que não se conheciam, iam partilhar casa num pais em que eu tinha estado com cada uma, em alturas diferentes. Pú-las em contacto e disse a cada uma tais maravilhas acerca da outra que ambas (e eu) partiram com a certeza de que se iam tornar as maiores amigas. Correu pessimamente. Não só não gostaram especialmente uma da outra, como a co-habitação chegou a ser um bocado difícil.
No regresso, uma delas disse-me, irritadíssima ''Pára! Pára de querer impingir as pessoas umas às outras! Lá porque tu gostas delas, eu não tenho que gostar também!''
Cena II
Também há uns anos, por acaso e não por escolha nossa, partilhei a casa com uma pessoa que, ao primeiro (e segundo, e terceiro) contacto, me fez torcer o nariz de enfado porque o abismo de interesses entre mim e ela se via à légua. Havia uma diferença, em especial, que ameaçava cavar um fosso intransponível entre as duas e condenar-nos a seguir caminhos que não se cruzariam depois do tempo de convívio forçado: essa pessoa era e ainda é uma católica muito, mesmo muito devota. Nos primeiros dias, as inclinações religiosas dela deixavam-me a hiperventilar.
Foi há 11 anos que morámos juntas e, como as probabilidades são muito burras, continuamos tão, tão amigas!
Cena III
Eu tinha um amigo, não especialmente próximo, que conheci através de outra amiga. Esse amigo e a amiga comum afastaram-se e o nosso convívio, até aí sempre intermediado por outros, deixou de existir. Ao longo do tempo, fomo-nos cruzando por aí e fui tendo notícias pontuais dele. Menos pontuais no tempo em que ele tinha um blog que eu seguia diariamente (viva os blogs). Foi há muito que deixámos de nos cruzar mas os sucessos dele foram sempre razão de contentamento e as preocupações dele sentidas por nós também.
Recentemente comentaram comigo ''mas como é que estás a par desses pormenores? vocês nem sequer eram muito próximos!''. Olha, pois não, não tenho explicação para o guardar como um amigo muito estimado, mais agora do que quando concicíamos regularmente. Mas guardo.
Cena IV
Trinta e tal anos de vida com muito em comum mas sem nenhuma intimidade. Um dia, acontece uma tragédia, as relações redefinem-se e reorganizam-se, aqueles que toda a vida tinham tido uma relação distante, encontram-se.