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Hoje acompanhei alguém muito próximo ao Hospital para uma consulta de certa especialidade onde tem sido regularmente avaliado. A primeira vez aconteceu há três anos, dois ou três dias antes do Natal e estragou-mo.
Passado este tempo, uma quantidade exaustiva de exames, orientação primorosa dos técnicos (médicos e não só), persistência, persistência, persistência, uma sorte de milagre e ... hoje fomos para a consulta cuja iminência antes me tirava o sono com muitos dias de antecedência como quem vai tratar de uma banalidade porque já sabemos que o prognóstico é o melhor possível.
O ambiente à volta é de depressão generalizada, o dinheiro é mais curto, o futuro uma incerteza mas na minha casa ele nunca pareceu tão radioso.
Tivesse eu podido adivinhar, no início do processo, que o rumo seria este e a muitos cabelinhos brancos teria sido poupada. Não é que tenha muitos mas de certeza que esta foi a razão de todos os que habitam na minha cabeleira.
Há uns dias, o meu sobrinho mais velho veio jantar a nossa casa. Delírio para ele e para os primos, claro. Ao jantar, todos impecáveis, aprumados, costas direitas, a comer tudo com preceito. Nada fazia prever o que vinha a seguir (só quem não conhecesse as peças!).
Ao serão, a barbárie instalou-se: começaram por se mascarar com o conteúdo do baú dos disfarces, piratas, polícias, aladinos. Depois, primo no andar de cima do beliche a receber os objectos sortidos que o primo a seguir lhe ia passando para serem atirados cá abaixo. Livros, copos de plástico da cozinha de brincar, os ditos disfarces, papéis rasgados tipo confetti esvoaçavam por todos os lados. Gargalhadinhas infantis mas já um bocadinho alarves soavam. Aproveitando a onda e a nossa tolerância ante o estado de sítio generalizado, o filho pequenino abria gavetas e atirava para fora calças, cuecas, sweat-shirts, sapatos, tudo aquilo a que conseguia deitar a mão. A situação foi mais ou menos controlada com a sugestão de irem todos para a sala fazer dinossauros de lego gigantes.
Eu, que estava com as costas todas empanadas, andei de rabo para o ar a tentar controlar os danos. Faz-lhes bem a possibilidade de uma dosezinha de loucura de vez em quando.
Quando, à chegada a casa, o meu sobrinho foi interrogado por mãe e avó sobre o jantar com os primos, disse muito animado ''aquilo foi um caos!''.